terça-feira, março 07, 2006

Doutrina Truman e Plano Marshall


Ao final da II Guerra Mundial os países europeus entraram em declínio, coincidindo com a ascensão dos Estados Unidos e da União Soviética. Winston Churchill, estadista britânico, foi o primeiro a perceber o perigo da ameaça comunista, iniciando fortes pressões para que o Ocidente encontrasse uma estratégia para deter o avanço soviético. Em resposta a atitude britânica, o presidente norte-americano, Henry Truman, pronunciou em 12 de março de 1947, diante do Congresso Nacional, um violento discurso assumindo o compromisso de defender o mundo capitalista contra a ameaça comunista. Estava lançada a Doutrina Truman e iniciada a Guerra Fria que propagou para o mundo o forte antagonismo entre os blocos capitalista e comunista. Em seguida, o secretário de estado George Catlett Marshall anunciou a disposição dos Estados Unidos de efetiva colaboração financeira para a recuperação da economia dos países europeus.

Fragmento de O mundo contemporâneo

A decorrência prática mais imediata da Doutrina Truman foi o Plano Marshall. Instrumento econômico e financeiro de cristalização da área de influência americana na Europa Ocidental e tentativa de estabilização da economia européia ocidental, ele consubstanciou agressivamente a noção de contenção. Nos anos do imediato pós-guerra, a Europa atravessava uma profunda crise econômica, dramatizada pelo racionamento de alimentos e energia, pelo crescimento do desemprego e queda vertiginosa das exportações. (…) A influência dos partidos de esquerda aumentava paralelamente ao agravamento da recessão.
Em junho de 1947, o secretário de Estado americano George Marshall lança as idéias básicas do Plano. Ele diagnosticava no desequilíbrio das trocas comerciais EUA-Europa e na conseqüente carência européia de dólares a fonte principal da crise econômica. Receitava um ambicioso programa de transferência de dólares de um lado para o outro do Atlântico Norte, através da concessão de fundos, créditos e suprimentos materiais a juros irrisórios. O Plano, proposto a todos os países europeus e à URSS, previa estratégias econômicas continentais que teriam como resultado a recuperação da atividade econômica européia, a retomada de trocas equilibradas com os EUA e o retorno aos antigos fluxos comerciais intra-europeus, caracterizados pela troca de manufaturados do oeste por produtos agrícolas do leste. Além de consolidar o capitalismo na Europa Ocidental, o horizonte do Plano previa a reintegração da faixa de segurança soviética do leste na economia capitalista mundializada.
Temerosa da invasão da frágil economia do leste europeu por uma enxurrada de dólares (e dos efeitos políticos desse cenário), a URSS retirou-se das negociações do Plano no mês de julho. Os países da Europa Oriental, não sem grandes hesitações, seguiram a decisão soviética.Em abril de 1948, foram assinados pelo presidente Truman os protocolos finais do Plano, envolvendo fundos e créditos no valor total de dezessete bilhões de dólares destinados a dezesseis países europeus, principalmente a Inglaterra, a França, a Itália e a Alemanha Ocidental. O Plano Marshall foi o conduto de realização do projeto geopolítico de reconstrução da Europa Ocidental capitalista, baseado na solidariedade política e complementaridade econômica com os Estados Unidos. De certa forma, a Comunidade Econômica Européia (CEE) tem as suas raízes nesse período, quando a Europa dos conflitos entre ambições nacionalistas e coloniais dá lugar a uma outra Europa, unida contra a "ameaça soviética" e integrada a um mercado mundial capitalista que tem como vértice os Estados Unidos.
A reação soviética ao Plano Marshall consistiu no fechamento econômico e na completa subordinação política de sua faixa de segurança no leste europeu.Ao se retirar das negociações do Plano, Moscou recria a Internacional Comunista sob nova roupagem: no lugar do antigo Komintern, extinto em 1943, surge o Kominform, organização que reuniu sob o comando do PCUS (Partido Comunista da União Soviética) os PCs da Europa Oriental, da Itália e da França. Em seguida, os governos provisórios de coligação do leste europeu são substituídos, um a um, por governos monolíticos e pró-soviéticos.
Fonte: Magnoli, Demétrio. O mundo contemporâneo. Rio de Janeiro: Ática, 1994, págs. 55-56.

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