O governo da Namíbia está sendo processado por coagir mulheres infectadas com o vírus HIV à esterilização. De acordo com a organização International Community of Women Living with Aids(ICW), há provas de que pelo menos quarenta mulheres soropositivas foram esterilizadas contra a vontade.
Muitas destas mulheres acreditavam estar passando por tratamentos de rotina para o HIV durante o parto. Só mais tarde ficaram sabendo que não poderiam mais ter filhos. Esther Sheehama tinha apenas 21 anos de idade quando os médicos fizeram a operação que mudaria sua vida. Ela agora trabalha para a ICW e diz: “Voltei um mês após o parto para exames de rotina, para ver se tudo estava bem comigo e com meu bebê, e, quando pedi anticoncepcionais, a enfermeira leu minha ficha e disse que eu não precisava mais de contraceptivos porque não poderia mais ter filhos. Levei um choque.”
A ICW acusa o governo da Namíbia de encorajar médicos a esterilizar mulheres soropositivas para prevenir a disseminação do vírus da Aids. Há um risco de um para quatro de que mães soropositivas passem o HIV para seus filhos. Mas com melhores tratamentos médicos, este risco pode ser reduzido a um para cinquenta.
Medo
O governo nega que haja qualquer programa para coagir mulheres a se esterilizar. Chegou até mesmo ao ponto de dizer que estas mulheres estavam mentindo. Esther Sheehama define a posição do governo como ridícula: “Por que eu inventaria uma história destas? É como inventar que sou soropositiva. Não faz nenhum sentido. Obviamente, as mulheres que sofreram com isto estão com medo. Algumas mal têm alguma educação. Elas não sabem ler ou escrever. Veem a lei e os legisladores e temem por suas vidas.”
Estigma
A ICW fez sua pesquisa na região norte da Namíbia, mas a organização acredita que muitas outras mulheres soropositivas tenham sido esterilizadas contra a (sua) vontade em outras regiões do país. Mas admitir que não podem mais ter filhos é um estigma ainda maior que contar a seus parceiros que são soropositivas. A importância que se dá na cultura da Namíbia à formação de uma família é tanta que uma mulher que não pode mais ter filhos pode ser rejeitada por seu marido e pela sociedade.
A ICW espera levantar fundos suficientes para fazer uma pesquisa mais abrangente no país. A organização também espera levar outros quinze casos à justiça no ano que vem.
Esther Sheehama reitera que não será fácil fazer com que as mulheres que sofreram a esterilização indesejada se identifiquem. “As pessoas ficarão sabendo que você tem o HIV e, obviamente, a imprensa estará lá. Para nós, que já assumimos que somos soropositivas, não é grave. Mas para quem ainda não assumiu pode ser um enorme problema. Elas terão que se preparar emocionalmente e psicologicamente para isso.”
Foto via Flickr: mikeknight
http://www.rnw.nl/pt-pt/português/article/esterilizações-sem-consentimento-na-namíbia
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