O ex-procurador-geral dos EUA, Ramsey Clark, lançará uma campanha internacional no dia 30 “para exigir a responsabilização dos Estados Unidos e de Israel pelos crimes de guerra no Líbano e Palestina”
O ex-ministro da Jus tiça do governo Johnson, Ramsey Clark, anunciou que a entidade que preside, o Centro de Ação Internacional (IAC, na sigla em inglês), lançará no dia 30 de agosto uma grande campanha, dentro dos EUA e internacionalmente, “para exigir a responsabilização dos Estados Unidos e de Israel pelos crimes de guerra no Líbano e Palestina”, o pagamento de indenizações pela destruição e perda de vidas causada, e o indiciamento de Bush e das autoridades israelenses. O ato será no Church Center das Nações Unidas, em Nova Iorque.
Ramsey afirmou que “vimos no Líbano uma guerra de agressão, o crime internacional supremo”, assim como já ocorrera no Iraque. A propósito, foi o Tribunal de Nuremberg, que julgou os capos nazistas, que criou essa definição. O líder do IAC acrescentou que foi “um ataque contra a soberania do Líbano, violando o Primeiro Princípio da Carta das Nações Unidas”, e perpetrado com “uso de força excessiva”. Aviões israelenses “golpearam uma nação indefesa contra assaltos aéreos”, reiterou, “bombardearam indiscriminadamente”, fizeram “civis de alvo”, cometendo uma “punição coletiva, na qual todos no Líbano sofrem”. Ele advertiu que a repulsa a Israel e aos EUA “sobrepuja todas as demais emoções no Líbano e por todo o mundo árabe” e que mais indignação “se espalha por todos os continentes”.
MULHERES E CRIANÇAS
“A nova tragédia do Líbano trouxe a morte para milhares de civis, crianças, mulheres e homens. Centenas de milhares, aproximadamente um-quarto da população de quatro milhões, estão refugiados de seus lares, dentro e fora do seu país”, denunciou Ramsey. Também está destruída a infra-estrutura, que só poderá ser recons-truída “se e quando a paz chegar”, apontou.
Ramsey reiterou que os integrantes dos governos dos EUA e de Israel responsáveis por essas agressões “deverão ser mantidos à disposição para indiciamento” por seus crimes de guerra. A campanha vai exigir, ainda, que os governos agressores dos EUA e de Israel, paguem “indenizações por mais de mil mortos, muitos milhares de feridos e estimados US$ 10 bilhões pela destruição de instalações civis no Líbano em apenas um mês”. Como ficou notório, Bush, além de fornecer as bombas a Israel, deu “sinal verde” para a continuação do bombardeio, impediu que o Conselho de Segurança da ONU decretasse imediato cessar-fogo e planejou previamente a agressão junto com Israel.
DESTRUIÇÃO NA PALESTINA
Mas não apenas no Líbano. Os agressores também serão responsabilizados “por milhares de mortos e feridos na Palestina desde os Acordos de Oslo, sistemática destruição do governo da Palestina, seqüestro de metade do ministério e do presidente do parlamento palestino, assassinato de líderes e indiscriminada matança de civis, assim como a destruição dos escritórios do Presidente Arafat, do Ministério do Exterior e de instalações civis em Gaza e na Margem Ocidental”, complementou o jurista.
O suposto pretexto de Israel para agredir o Líbano, a captura de dois soldados – na verdade uma provocação montada por Tel Aviv-, também foi questionado por Ramsey. “Apenas uma pessoa com uma memória que não alcance mais de três semanas poderia acreditar que a captura de três soldados israelenses começou a atual violência”, referindo-se às sete invasões cometidas por Israel e às inúmeras incursões. “Não foi Israel que seqüestrou metade do ministério israelense e se engajou em execuções sumárias por toda a Palestina desde que as eleições deste ano deram a maioria ao Hamas no parlamento palestino? Não houve ataques à vontade contra o povo palestino por décadas?” – destacou.
FRACASSO DE BUSH
Ramsey também colocou em questão se a retirada forçada, por pressão dos EUA e de Israel, das tropas de paz da ONU do Líbano, depois do atentado que matou o primeiro-ministro Hariri não passou de “prelúdio de um plano de Israel para assaltar o Líbano e reocupar até o rio Litani”. Indo além, ele disse que é preciso indagar se “o feroz ataque ao Líbano e Palestina é o prelúdio para ações mais extensas contra a Síria e o Irã”. Bush tem deixado claro que quer uma “troca de regime no Irã e Síria” e tentou “jogar nos dois a responsabilidade” pela violência no Líbano e na Palestina, lembrou.
Ramsey, que integra a equipe de defesa do presidente Sadam, denunciou que o fracasso de Bush no Iraque o faz necessitar “de novas ameaças para desviar a atenção do povo dos EUA daquilo que sua política de Choque e Horror trouxe para o Iraque, para nós e para o mundo”. “A guerra no Líbano ajuda a desviar temporariamente a atenção e serve para estender o conflito para incluir a Síria e/ou Irã. Se isso não funcionar, sempre há Cuba, Coréia do Norte, Somália, Sudão, Venezuela e outros contra os quais agir”, advertiu.
Ele afirmou que “o futuro da Palestina continua sendo a questão central para a paz no Oriente Médio”, estando “mais ameaçado do que em qualquer outra vez desde os Acordos de Oslo”. “Todos na Palestina sofrem da violência desencadeada pelo renovado “Mapa da Estrada” para a guerra de Israel”, denunciou. “Isolado entre os chefes de governo do mundo inteiro, Bush vem dando sustentação a cada ato de Israel, cada ataque contra o Líbano e a Palestina”, afirmou o jurista.
Encerrando sua convocação, Ramsey alertou o povo americano de que, se for permitido que Bush “prossiga com sua política de dominação através da ameaça e da força fora da lei”, nós nos arriscamos a uma “ainda maior ampliação da violência internacional”. “Vamos perseverar até que a paz prevaleça”, convocou Ramsey, após conclamar cada americano a “dar o melhor que puder” para a campanha. “Espero vocês no Church Center no dia 30”.
ANTONIO PIMENTA
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